By:
VITAL WEEKLY | Blitz | Público
| Bodyspace | Op |
LA
STRADA IS ON FIRE (and we are all naked)
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released
on:
Crónica
(004~2003)
buy/shop on Bandcamp:
https://vitorjoaquim.bandcamp.com/album/de-tour
Vaguely linked to ambient music, but always with a more harsher and
electro-acoustic edge to it. (...) a fairly nice CD.
(FdW)
VITAL WEEKLY
number 373 / week 22
Há títulos que se apossam das obras que nomeiam. Tornam-se guardiões,
mediadores e senhores do seu conteúdo. É preciso ceder à sua
chantagem,é inevitável que se lhes obedeça. Esforço inútil, porque
jamais conseguiremos ver-nos livres da sua presença. Muito menos quando
um título tem um poder tão evocativo quanto La Strada Is On Fire (And
We Are All Naked). É preciso dize-lo: este título é um prodígio. Tem
o equilíbrio necessário entre o poético, o absurdo e o visual. É um
daqueles títulos de que nos vamos lembrar para o resto das nossas vidas.
Não interessa se era essa a intenção do seu autor, mas a este que vos
escreve lembra uma clássica fotografia tirada no Vietname, com uma
criança a correr em lágrimas, nua, fugindo do bombardeamento americano
à sua aldeia.
Isso e, claro, Fellini, numa intromissão absurda mas nem por isso menos
pertinente.
É, portanto, difícil ouvir este disco sem lembrar o seu título. É
difícil percorrer o seu terreno sem pressentir a chama azul, quase
invisível, que o queima. Não se pode dizer que arrepie, transforma
antes a pele em prata esvoaçante. Vêmo-la a tornar-se fuligem cromada,
a desaparecer na contra-luz digital. Ouvem-se, a espaços, um piano,
saxofones, um baixo e vozes, ensaiando odes, saindo-lhes lamentos
desajeitados, comprometidos - conseguem mais depressa ser espectros de
monólogos a quererem fugir do palco. Quando bem usado, o napalm até a
luz queima. Um dano colateral, tal como o obtido com o título deste
disco.. 7/10
> Sérgio Gomes da Costa / Blitz / (P)
19.08.2003
Ainda a electrónica como máquina de sonhos fabricados a partir de
recortes da realidade mesmo que a “realidade” não seja mais do que
a fenomenologia de um mundo “exterior” que nos é vedado. A estrada
está a arder mas não nos damos conta. E Vitor Joaquim filma o vazio do
pós-incêndio. Os saxofones conferem uma nota de psicadelismo-etno e
“alien jazz” a uma música que ocasionalmente evoca os SPK na sua
vertente mais ritual. Aprovado como banda-sonora de um “peep show”
para o pós-Apocalipse. 8|10
> Fernando Magalhães / Y, Público (P)
06.06.2003
A música recorre a um
complexo jogo de formas sonoras, onde os saxofones desempenham um papel
meritório na construção de ambientes nebulosos, que podiam encaixar
perfeitamente em esferas de pânico ao mais nobre estilo suspense
digital. O álbum ajusta-se à coerência da editora, englobando música
abstracta, pensativa e recolhida, deslumbrada com a manipulação e
apaixonada pela técnica, embora traga consigo grandes problemas de
concentração e apreensão ao ouvinte mais desatento e desprevenido.
Dado o facto de este ser um tipo de ambientes que exige um suporte e
contextualização, sob pena de se perder pura e simplesmente o fio à
meada, o título do disco acaba por sugerir quase uma ideia de craveira
a seguir, para que os sons que ouvimos tenham de facto um sentido. A
envolvência chega a ser doentia, de retoques frívolos num caminho pós-incêndio
que se estatela a nossos pés. Dispensando títulos nas faixas e
contando com a colaboração de Martin Archer, Rodrigo Amado, Victor
Coimbra e Mariana F, podemos ainda encontrar trechos de um discurso de
Bill Clinton e sons de anúncios de televisão.
A existência de uma componente vídeo volta a ser uma característica a
assinalar da chancela Crónica. Desta feita é apresentada uma composição
de título “La Strada is on Fire” (único tema com nome), que
recorre a um estilo muito característico dos artistas com base electrónica.
Confuso, mas decididamente interessante.
Como se a estrada ardesse mesmo à nossa frente, e nós estivéssemos
desprevenidos com tamanho susto. Sem protecção, amparo ou abrigo,
despidos de uma crueza que nos coloca perante um acto eminentemente
perigoso. Não que não gostemos de passar por esta situação algumas
vezes, mas é levada aqui a um ponto que deixa qualquer pessoa, no mínimo,
desamparada. 7/10
> Tiago Gonçalves / Bodyspace.net (P)
17.06.2003
Tem sido notável o crescimento do conceito musical
de Vitor Joaquim: depois de aventuras de maioridade
orgânica (através de Free Field), Joaquim
entra com algum fulgor numa idade digital e funde
tudo num ramalhete equilibrado de "computer e
ambient music".
>OP #11 (P)
2003
interview (portuguese): aputadasubjectividade.net
(...)
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